Saturday, May 19, 2007

Pepetela






Artur Carlos Maurício Pestana dos SantosPEPETELA
Escritor angolano: nascido em1941






QUANDO TUDO ACONTECEU...

1941: Artur Carlos Maurício Pestana dos Santos (Pepetela) nasce em Benguela, Angola, em 29 de outubro.
1958: Parte para Lisboa, onde ingressa no Instituto Superior Técnico (Engenharia) que freqüenta até 1960.
1961: Transfere-se para o curso de Letras. Neste mesmo ano acontece, em Luanda, a revolta que origina a Guerra Colonial.
1963: Torna-se militante do MPLA - Movimento Popular para a Libertação de Angola. 1960/1970: Freqüenta a Casa dos Estudantes do Império, em Lisboa, berço dos ideais de independência. Exilado na França e na Argélia, posteriormente gradua-se em Sociologia.
1975: Independência de Angola. Nomeado Vice-Ministro da Educação no governo de Agostinho Neto.
1997: Ganha o Prémio Camões pelo conjunto da sua obra.
2002: Recebe a Ordem do Rio Branco, Brasil. - Actualmente é professor de Sociologia da Faculdade de Arquitetura de Luanda, onde vive.

BIBLIOGRAFIA

Muana Puó - Romance escrito em 1969 e publicado em 1978.
Mayombe - Romance escrito entre 1970 e 1971 e publicado em 1980.
As Aventuras de Ngunga - Romance escrito e publicado em 1973.
A Corda - Peça teatral escrita em 1976.
A Revolta da Casa dos Ídolos - Peça teatral escrita em 1978 e publicada em 1979.
O Cão e os Calus - Romance escrito entre 1978 e 1982 e publicado em 1985.
Yaka - Romance escrito em 1983 e publicado em 1984 no Brasil e em 1985 em Portugal e em Angola.
Lueji, o Nascimento de um Império - Romance escrito entre 1985 e 1988 e publicado em 1989.
Luandando - Crônicas sobre a cidade de Luanda escritas e publicadas em 1990.
A Geração da Utopia - Romance que começou a ser escrito em 1972 e publicado em 1994.
A Gloriosa Família, o Tempo dos Flamingos - Romance publicado em 1997.
O Desejo de Kianda - Romance escrito em 1994 e publicado em 1995.
A Parábola do Cágado Velho - Romance. Começou a ser escrito em 1990 e foi publicado em 1997.
A Montanha da Água Lilás, fábula para todas as idades - Romance publicado em 2000.
Jaime Bunda, o agente secreto - Romance publicado em 2002.

Cremilda de Lima


Procurámos Cremilda de Lima uma escritora angolana, que escreve literatura infantil tendo-se iniciado na década de 80, época em que provavelmente mais se escreveu com maior profundidade para crianças.
A sua actividade como escritora de literatura infantil partiu do facto de ser professora do ensino primário, com o Magistério Primário feito em 1962, na primeira escola do Magistério Primário que abriu em Angola, no Bié. Foi exercendo a sua profissão ao longo dos anos. Depois, em 1977, foi contactada pela direcção do Ministério da Educação para trabalhar no Centro de Investigação Pedagógica e Inspecção Escolar, ou CIPIE, para contribuir ou colaborar na reforma educativa. Anteriormente a 1975 Angola era uma província portuguesa, por conseguinte, os manuais e os programas tinham conteúdos de carácter português. E era necessário reformular os programas, manuais e os cadernos de actividades. Não só adequar, mas fazer uma mudança total, no sentido de lhes dar aquele cunho, que é o cunho angolano, da tradição cultural e do que são as vivências angolanas. Daí Cremilda de Lima passou a trabalhar no CIPIE, fazendo parte do grupo de língua portuguesa, para fazer então os novos manuais, guias e cadernos de actividades para o ensino de base, primeiro nível. Começava então a reforma educativa nesse ano em Angola.


“O escritor, quer seja de literatura infantil quer seja de outro tipo de literatura para adultos, deve trazer sempre algo que permita que a imaginação possa viajar para este ou aquele país, conhecer este ou aquele aspecto da fauna, da flora, conhecer vivências, porque as vivências de um povo são marcadas por aquilo que é a cultura, o que se realiza no dia-a-dia, a alimentação, os trajes, os seus penteados…”


Afirma a autora que, não considera a sua literatura tradicional, mas sim uma literatura em que as tradições estão bem inculcadas para que as tradições do povo angolano não se percam.
Cremilda de Lima é actualmente professora da primária na “Escola Portuguesa de Luanda” lidando todos os dias com a sua grande paixão e fonte de inspiração: As crianças.
Um mulher de corpo e alma angolana que se orgulha da sua nacionalidade e tendo contribuído bastante para uma melhor e pessoal literatura angolana.


“ Que arrelia… Todos os dias a mesma coisa!... Tenho que arranjar a maneira de corrigir este menino. Será que vou passar a vida com açúcar agarrado a mim, quando o que eu gosto mesmo é de sentir os grãozinhos andarem de escorrega soltos e felizes?”

Cremilda de Lima A colher e o génio do Canavial
l

Provérbios


Um breve olhar sobre os provérbios angolanos, a partir de recolhas efectuadas entre os séculos XIX e XXUm provérbio carrega sempre dois sentidos “ literal e conotativo “ implicando um significado secundário. A passagem do primeiro ao significado secundário, cuja coerência e possível detectar em determinadas circunstancias, constitui o núcleo da sua beleza, justificando por isso o esforço de interpretação que ele exige.

-
Onjimbo lelungi, omunu lonjo Um animal como o papa-formigas vive em qualquer cova que encontrar, já a pessoa tem sempre uma casa. Enquanto as covas abundam na selva, os homens constroem as casas de acordo com as suas necessidades. Os animais não transformam a natureza como os homens. A dignidade da pessoa não se confunde com o modo de vida dos animais.O papa-formigas vive na cova, a pessoa habita uma casa.

-Omunu nda ngo wafa kami ondalu, ava vasyala vayota Apesar da morte, que e uma contingência que afecta os homens, a vida prossegue com os vivos. A substituição e a sucessão são incontornáveis no mundo das relações sociais. A morte não põe termo a sobrevivência comunitária. Não há pessoas insubstituíveis.A pessoa que morre não extingue o fogo, os vivos continuam a servir-se dele.


- Ekepa kalilinasi lositu, omunu kavokendi lomwenho O osso esta para a carne assim como a pessoa esta para a vida. Este provérbio pode ser proferido quando se pretende ensinar ou elucidar alguém sobre a importância da relação existente entre a pessoa, as partes do seu corpo e a própria vida. A relação existencial que se observa nas duas orações do provérbio, permitem inferir a construção de uma metonimia, pois o valor da carne e da pessoa humana e aferido por uma das suas partes. E que não há carne sem osso, mas também não há vida humana sem pessoa.

Apenas com estes três provérbios, rapidamente percebemos a inteligência e beleza da literatura angolana, fazendo um apelo a conduta do ser humano

50 anos de Literatura Angolana


Castro Soromenho, seguindo percursos de grande diversidade, resgata para
a literatura a vida dos sertões de Angola, pelos caminhos dos Homens sem Cami-
nho. “Escrevendo em português, ele climatiza, ideologiza e universaliza o choque
que gerou a “Angolanidade”, diz Costa Andrade3, o poeta angolano a quem se deve
nos anos sessenta a definição dos contornos e do conteúdo desse conceito operativo
a partir dessa data.
Mário Antônio Fernandes de Oliveira, poeta e ensaíta angolano de grandes
recursos, aponta, em muitos dos seus trabalhos, a importância das colaborações
no jornal A Província de Angola, e dos círculos de interesse e tertúlias formadas
em tomo do Liceu Salvador Correia, fundado em 1919 e durante algum tempo
única instituição de ensino liceal existente em Angola, estabelecendo pontes interessantes
com alguma poesia portuguesa e possibilitando aos alunos o conhecimento
de nomes como José Blanc de Portugal, Jorge de Sena e Ruy Cinatti.4
Dos quadros do Liceu, Mário Antônio ressalta a actuação de Alves da Cunha,
ligado à fundação do Museu de Angola e reorganização da documentação de carácter
histórico e de Cruz Malpique, directamente relacionado com a fundação em 1942 da
Sociedade Cultural de Angola. O jornal desta Sociedade, Cultura, com duas séries,
será na sua segunda fase (1957-1961-13 nºs) o veículo por excelência das vozes que
tecem o modernismo da literatura, sobretudo da poesia e do ensaio, de Angola.
Pode dizer-se que entre a primeira fase e a segunda de Cultura um movimento
pendular se institui e o que sobra é realmente para a segunda fase um resgate
dos temas angolanos e de Angola como objecto principal da revista.
[...] e nós vamos remontar [...] ao ano de 1948. Que é o ano de referência para a tal
geração chamada dos “Novos Intelectuais de Angola “ ou do “Vamos descobrir Angola” ou
da “Mensagem”. Uns situam em 48, outros em 50. Nós vamos situar em 48.
Assim e numa palestra nunca publicada, proferida no P.U.N.I.V.-, em Luanda,
em Maio de 1989, Antônio Jacinto5, poeta de “Carta de um Contratado” e contemporâneo
destes movimentos, contava como tudo tinha acontecido.
Esta palestra, juntamente com todas as marcas da oralidade, conserva a presença
tímida do poeta do Kiaposse6, e caracteriza esse movimento que se propunha
franquear a muralha de silêncio construida pelo colonialismo e que separava
os intelectuais filhos de colonos e de assimilados do povo angolano.
Angola entra na década de quarenta com o sistema colonial e os seus modelos
e padrões, practicamente estabelecidos. Economicamente as produções do
café e do algodão tinham obrigado a uma reordenação dos espaços. A quadrícula
da ocupação reduzira consideravelmente a iniciativa e capacidade de resposta
dos africanos. O interior do país fechava-se. Às cidades, no entanto, embora de
forma ténue, os ecos dos movimentos mundiais (pan-africanismo, negritude) iam
chegando. Nas colónias de lingua inglesa criavam-se as primeiras universidades.
Nas principais cidades da colónia, instituições de carácter mais ou menos
associativo, operativas desde o princípio dos anos quarenta e que possuem os seus
próprios orgãos de imprensa, reservam margens de liberdade para dar espaço à
“questão angolana” que entretanto se ia de uma maneira ou de outra formulando.
[...] assim se formou um grupo ocasional em casa de um amigo, em casa de Humberto
Machado... Um sobrinho que ele tinha, Higino Aires, que se fazia rodear de um certo grupo
de jovens e é o mesmo Higino Aires que batizou esse grupo que se reunia uma vez por semana
à noite, de “Elenco”. [...] Também se falava de poesia [...]
Esse grupo chamava-se “Elenco” e não é “Vamos descobrir Angola” mas aí começa [...]
Assumindo uma voz de griot, Antônio Jacinto resume assim como tudo começou
e é testemunho de alguém que fez parte do “elenco” que havia de “Descobrir
Angola” e navegar “Mensagem” e “Cultura”, pagar isso tudo no campo de concentração
do Tarrafal, ser guerrilheiro, ministro, deputado e retirar-se com passos
pequenos da política e da vida, quando o projecto de nação que ajudou a descobrir
se revelou longe da vertente cultural que sempre lhe atribuiu.
Entre quarenta e cinquenta, os quintais de Luanda acendiam-se ao ritmo do
N’Gola Ritmos e a palavra prolongava-se em torno da discussão de temas angolanos,
em busca de um movimento de renovação que colheria os seus primeiros
frutos no “Movimento dos Novos Intelectuais de Angola”.
Conciliar um imaginário poético com uma práxis é caminho que começa apresentar-
se profícuo para uma geração que, se ainda não tem respostas, assumiu,
por inteiro, o direito de se interrogar.
Antônio Jacinto situa em 1948 a palestra que o caboverdeano Filinto Elísio
de Menezes, poeta da geração “Certeza”7 proferira na Sociedade Cultural de Angola8
para denunciar a inexistência de uma “verdadeira crítica literária” que peneirasse
a literatura louvaminheira e de ocasião da que começando a despontar
iria verdadeiramente rasgar os caminhos para uma literatura merecedora do qualificativo
angolana.
Serve de esteio a esta tomada de posição iconoclasta o modelo brasileiro,
mesmo se, como alguns estudiosos o afirmam, mal conhecido9, tendo Maurício de
Almeida Gomes10 glosado no poema “Exortação” os poetas brasileiros Ribeiro
Couto e Manuel Bandeira, gritando ser preciso “criar a nova poesia de Angola”.
Essa nova poesia/forte, tema, nova e bela/ amálgama de lágrimas e de sangue/
sublimação de muito sofrimento/afirmação de uma certeza”.11
Pela primeira vez se evoca o passado como exemplo para reforçar as novas
razões de Angola. O movimento “A Voz de Angola Clamando no Deserto” é reclamada
como uma tradição e citada para representar como poderia ser forte a voz
dos naturais de Angola ou filhos do país como se designavam a si próprios.
[...] Tomás- Bem! A poesia, jovem, não se explica. É um fogo que nos abrasa, um ar
que nos dá. Mas enfim... Conhece o Assis?
Paulo – Qual Assis? O das musicadas?
Tomás – Quais inusicadas! O diccionário do Assis. Não? Incrível! Pois, jovem
conselho numar um: compre o Assis.
Numar dois: Leia e medite esse diccionário. E talvez lhe pareça profético mas a verdade
é esta : sem o Assis não haverá poesia angolana!
Desta forma, recheada de fina ironia, Luandino Vieira, a voz absoluta do
romance angolano reconstitui, na sua “Estória de Família”12 o nascimento da
moderna literatura angolana e de como ela criou os seus clássicos, colocando
no panteão de referência Antônio de Assis Júnior, o autor do Diccionário
Kimbundu Português e do Romance de Costumes Angolenses, que ao revelar os
segredos da morta, tão bem caracteriza essa sociedade complexa e dividida
entre mundos diferentes no triângulo Luanda – Dondo-Luanda com a cumplicidade
de Kuanza.13
A geração dos mais novos necessita do tom ancestral dos tambores que
marque um ritmo diferente à língua portuguesa e dela se aproprie.
Os ecos desta empresa de descoberta chegam a Lisboa e são contados e ao
nº 37 da Rua Actor Vale, onde se reuniam habitualmente Agostinho Neto, Amílcar
Cabral, Vasco Cabral e Mário de Andrade para só referir alguns dos frequentadores.
É Viriato da Cruz que faz chegar, por carta, as novas e as intenções de Luanda.


A profecia antes da mensagem
Figura tutelar, deste e dos movimentos seguintes, Viriato da Cruz vai marcar
com a sua obra os intelectuais de Angola, abrindo os caminhos possíveis para os
rumos da literatura angolana, de forma tão forte que a música, a dança, o quotidiano
em mudança habitam os seus poemas numa apropriação do real que confere eficácia
ao caminho da literatura angolana. Juntamente com Agostinho Neto e Antônio
Jacinto seguram as pontas de um movimento que arrastaria muitos nomes
ainda hoje com lugar marcado na literatura que se faz em Angola.
Linguagem de manifesto, documento de fundação, constituem as marcas de água
a separar a apropriação de um tempo feita por um grupo de jovens para os quais literatura
é também apropriação de um território da verdade para o qual apelam os lexemas
povoados de uma carga semântica positiva como : terra, canto, verdadeira.
É a fala de uma geração “mais consciente de si propria e da diferença que
tem que assumir para o futuro”. O momento de que se fala é um momento onde se
forjou e se inscreveu uma actividade literária e cultural com fortes implicações
ideológicas: trata-se dos primeiros sinais de reconhecimento de uma identidade
que se queria nacional e libertadora.
A poesia constitui-se como a voz particular que organiza e dá sentido a um
quotidiano perturbado e o poeta mesmo quando diz “Não é este este ainda o meu
poema/ o poema da minha alma e do meu sangue não/ Eu ainda não sei e não
posso escrever o meu poema/”14, assume o estatuto de uma fala outra perdida nos
misseke, recuperada no grande movimento de descoberta da terra.
Entre tradição e ruptura se faz a afirmação deste momento novo, com as
saudades da infância, lugar ameno, perdido para sempre, cidade e infância descendo
as avenidas de alcatrão, particular travessia do inferno cortada com o choro
dos contratados.
Na palestra a que já fiz referência15, Antônio Jacinto cita Mário Antônio para
concordar que na origem de muitos destes grupos e movimentos estaria muita
boémia intelectual:
[...] O movimento nunca publicou um livro, nunca publicou uma revista, mas tudo foi
saindo nas Mensagens, antologias, cadernos antológicos... Por isso nós podemos chamar o
movimento como uma corrente, incluindo até pessoas que não se conheciam.[... ]
Com existência formal, de manifesto e tudo a partir de 1948, ou nascido muito
antes nas páginas do jornal O Farolim (1946 - a partir de um texto de Agostinho
14 António Jacinto- “Poema da Alienação”, in No Reino de Caliban II, p. 136
15 Agradeço a Ruth Lara e a Conceição Neto a amabilidade de ma terem confiado.
via atlântica n. 3 dez. 1999
130
Neto “Marcha para o Exterior”), ou nunca enunciado enquanto tal, o movimento
“Vamos descobrir Angola” ganha identificação na obra posterior dos autores, sobretudo
poetas, angolanos, que crescem literariamente, nos anos cinquenta e sessenta,
publicados em Cultura, Mensagem, antologiados pela Casa dos Estudantes do Império, citados por quem redescobre o passado Angolano muito para além da
sua existência de e no papel.